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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O império do champanhe e sua personagem mais ilustre em "A Viúva Clicquot"



"A Viúva Clicquot" (lançamento da ed. Rocco, tradução de Angela Lobo) não é um romance, mas poderia ser. E daqueles de enredo elaborado, com altos e baixos que dão ritmo à leitura. Trata-se, na verdade, do resultado de uma longa e minuciosa pesquisa feita pela historiadora cultural Tilar J. Mazzeo sobre a vida de Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin, a mulher por trás da marca de champanhe mais famosa do mundo.

A autora americana recolheu documentos, mergulhou nos registros da França dos séculos 18 e 19 e se embrenhou em vilarejos por toda Champagne. Tudo em busca de vestígios dessa mulher que quase passa despercebida na história. Os melhores causos saíram dos bares e bistrôs, onde Tilar entrava e pedia "às pessoas que se lembrassem, mesmo sabendo que lembrar e inventar são primos-irmãos, principalmente à distância de duzentos anos".

É desse apanhado de informação catalogada e de tradição oral que o leitor forma a imagem de uma viúva Clicquot forte, contraditória, mas principalmente inteligente. Não é à toa que conseguiu se destacar num mercado dominado por homens, em uma época em que feminismo era uma palavra que apenas começava a ser pronunciada.

Não se pode dizer que a viúva Clicquot (ou Veuve Clicquot, como no rótulo do champanhe) tenha inventado o vinho com borbulhas. Esse mérito, até onde se sabe, é de Dom Pierre Pérignon. Mas se não fosse La grande dame, como era conhecida em Champagne, certamente a trajetória da bebida francesa seria outra.

O que fez dessa mulher alguém realmente importante, principalmente para os apreciadores do melhor espumante do mundo, foram suas descobertas na adega. Foi dela a ideia de rodar as garrafas todos os dias, em giros curtos, por até três meses, para conseguir que os resíduos fiquem no gargalo. Esse método é conhecido até hoje como remuage, e consiste numa importante etapa da fabricação do champanhe.

E para quem acha que até aqui esse livro parece biografia de empresária de sucesso, eis a melhor parte do enredo da vida. Como se não bastasse pertencer à geração que inventou o modelo da sociedade moderna, a partir da Revolução Francesa, madame Clicquot ainda era uma figura instigante. Alguém que se escondia por trás de livros de contabilidade.
Viúva aos 27 anos, era uma mulher conservadora, mãe dominadora e nem um pouco feminista. Uma durona. Ou, como descreveu o escritor Prosper Mérimée, a "rainha não coroada de Reims".

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